Dá para empatar esse jogo? Se você tivesse que optar por ser linda e leve ou vender saúde, com qual das duas alternativas ficaria? Uma boa parte de nós, mulheres, abraça a primeira sem pestanejar. Mas algumas já começaram a desconfiar que as loucuras feitas pelo tamanho P acabam até com o brilho nos olhos. Será então que a saída é abrir mão da beleza e relaxar com os pneuzinhos na cintura? Jamais! Pedimos à repórter Angela Senra que nos ajudasse a colocar fim a esse dilema. E sabe o que ela descobriu? O seu, o meu, o nosso sonho pode se tornar realidade: Olimpo, aqui vamos nós!
Outro dia, depois de constatar que se desejasse continuar entrando no jeans teria de passar um mês a alface e água, me peguei pensando: quero ser magra ou saudável? Porque decididamente essa dieta verde faz qualquer uma cair doente, concorda? Acontece que, se faço as pazes com a balança, o espelho corta relações comigo… Como é difícil a vida de uma mulher! Verdade que as coisas estão mudando. A onda do manequim triple zero (000) de Paris Hilton, de tão absurda, parece ter acordado o planeta para as loucuras que andávamos fazendo na tentativa de perseguir o padrão peso-pluma. Logo em seguida, a morte da modelo Ana Carolina Reston, em 2006, vítima de anorexia, trouxe a realidade para ainda mais perto das brasileiras… Pára tudo! Onde fica a saúde?
A resposta do mundo foi clara: no ano passado, os organizadores da Semana de Moda de Madri, na Espanha, anunciaram que nenhuma top model subiria às passarelas caso não estivesse dentro do IMC (índice de massa corpórea) considerado normal, entre 18,5 e 25. (Ufa! Estou dentro do limite, exatos 25.) Aqui mesmo, na SPFW, foram realizadas palestras para as modelos alertando sobre os perigos dos distúrbios alimentares. Tudo isso, somado às campanhas publicitárias que, de uns dois anos para cá, começaram a anunciar que podemos ser bonitas mesmo não vestindo manequim 38, vem permitindo que a gente coma mais tranqüila. No entanto, algo me diz que nós, mulheres, não vamos desistir da beleza sem luta. Essa valorização da diversidade alivia um pouco a pressão, mas está no nosso DNA ser vaidosa, certo?
Continuei pensando a respeito: será que, se optar pela beleza, vou ser criminosa com a minha saúde? Ou sou magra ou saudável? Tenho amigas que acreditam que a batalha é assim mesmo, radical — e fazem loucuras tipo passar dias à base de abacaxi, encarar lipos e mais lipos… Mas eu desconfio que não precisa ser assim e resolvi apurar a questão. Uma luz conciliadora parece ter acendido no fim desse túnel. Venha comigo até ela.
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A primeira dúvida que fui tirar a limpo: o que exatamente significaria ser saudável. A endocrinologista Claudia Cozer, membro da diretoria da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso) me explicou que uma das variáveis a checar continua sendo o tal do IMC. Também é preciso fazer, a cada dois anos a partir dos 25 anos, exames de sangue para controlar taxas de glicose e de colesterol, além de medir a pressão arterial. O pacote de bons hábitos inclui adotar uma alimentação equilibrada (consumindo refeições coloridas e pouco gordurosas a cada três horas) e praticar uma atividade física, pelo menos três vezes por semana, por um período de uma hora no mínimo. Socorro, eu sou sedentária até o último fio de cabelo! Finalmente, ter sono regular e evitar vícios como fumo, álcool e drogas. Desses últimos, passo longe — já é um ganho.
beleza 1 X 0 saúde
E o que é ser bonita? Na década de 1990, o visual magérrimo heroin chic fazia o maior sucesso. A top da vez era Kate Moss. O estilo começou a perder a graça quando o pessoal do mundo da moda se tocou que a falta de nutrientes derrubava qualquer look. A pele e o cabelo ficam ressecados, as unhas quebradiças, os olhos sem brilho e não se tem energia para nada. Ninguém merece. Isso sem falar que as dietas malucas podem causar anemia. E a privação de comida, o consumo de laxantes e a prática de indução ao vômito são fatores de risco para distúrbios alimentares como bulimia e anorexia, que causam terríveis conseqüências ao organismo. Quando não matam, levam a desnutrição, stress, depressão, perda óssea e dentária, envelhecimento precoce, alterações de humor e dos hormônios (inclusive dos feromônios, responsáveis por atrair o sexo oposto). Ter colesterol, taxa de glicose e pressão sob controle só em sonho. Eu… ser magrela a esse preço? Ainda estou no meu juízo perfeito.
Pena que, mesmo em tempos de Gisele Bündchen, ainda veja muitas de nós entregando a saúde de bandeja para ficar com um corpinho cabide. Para a psicóloga Joana de Vilhena Novaes, autora do livro O Intolerável Peso da Feiúra (PUC/Garamond) e coordenadora do núcleo de doenças da beleza do laboratório interdisciplinar de pesquisa e intervenção social da PUC-Rio, essas mulheres são capazes de tudo para conquistar as curvas desejadas e têm consciência de que correm riscos. “Uma das entrevistadas me disse que sabia que iria morrer mais cedo devido aos remédios que tomava, mas que até lá ficaria magra.” Isso me lembra uma amiga que vive se entupindo de bolinhas para perder peso. Se é convidada para uma festa no final do mês, passa 30 dias a água e comprimidos. Tudo para entrar no vestido um ou dois números menor e se sentir poderosa, matar as outras de inveja.
Sinal amarelo: quem disse que magreza é sinônimo de beleza? Para você ficar de bem com o seu corpo, é necessário que ele não seja a sua única preocupação, segundo o psicólogo Cristiano Nabuco de Abreu, coordenador da equipe de psicologia do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (Ambulim). Ele garante que a beleza é mais do que um corpo esguio. O problema é que, quando a mulher está deprimida ou desestimulada, tende a se sentir mais insatisfeita com suas curvas, estejam elas no lugar ou não. “Por isso é importante desenvolver estratégias que a façam se sentir bem, como falar sobre o drama com amigos ou até escrever um diário.”
A beleza está na cabeça, então. Faz sentido. Percebo que, se estou equilibrada emocionalmente, consigo raciocinar melhor sobre o que realmente preciso melhorar, sem enlouquecer — achando que tenho de perder 15 quilos em um mês, por exemplo. O cirurgião plástico José Enéas de Souza Cortes acrescenta que muitas mulheres enxergam defeitos onde eles não existem ou com lente de aumento e acabam presas fáceis de médicos inescrupulosos, que banalizam os procedimentos estéticos. É o caso das que se submetem a lipoaspiração anualmente. “Não há contra-indicação, mas não é saudável nem ideal”, alerta.
beleza 1 X 1 saúde
A primeira coisa que imaginamos quando engordamos é que estamos mais distantes ainda do ideal de beleza que sonhamos conquistar. Geralmente ninguém pensa na saúde. Pelo contrário, é comum ouvir uma garota contar sobre quando caiu doente e perdeu 10 quilos. Mas que a gente daria um doce a quem descobrisse uma fórmula que nos deixasse secas, saudáveis e sem sofrer privações, ah!, daria… Boa notícia: há saída. “O caminho é apostar na reeducação alimentar”, avisa a nutróloga Regina Mestre, do Rio de Janeiro. Com ela, descobri que o primeiro erro que venho cometendo é tentar fazer isso sozinha. É essencial o acompanhamento de um profissional, pois cada pessoa tem necessidades específicas. Eu nunca fui adepta das dietas da moda, mas fiz algumas por minha conta, sem critério. Verdade que, há três anos, consegui perder 10 quilos mantendo um cardápio equilibrado. Foi uma alegria. Mas, apesar da supervisão médica, voltei a engordar. Uma das razões, segundo o doutor, foi meu sedentarismo. Não dá para escapar: para a saúde empatar com a vontade de ficar magra, é indispensável malhar. A terceira ponta do triângulo são os tratamentos estéticos. Não há dúvida de que eles ajudam qualquer uma a se sentir bem na própria pele. Só não vale confiar só neles, dispensando a ginástica e abusando dos comes e bebes. Para fechar com chave de ouro essa maratona de conversas com especialistas, arrisquei montar um programa de emagrecimento saudável para mulheres como eu, preguiçosa para malhar e boa de garfo. Dê uma olhada. Poderá ajudar você a fazer o seu.
NOSSA REPÓRTER ENTRA EM CAMPO PARA EMAGRECER SEM FICAR DOENTE
No plano ideal
Malhação
Os experts recomendam suar o top por pelo menos uma hora, no mínimo três vezes por semana.
Alimentos a consumir
Agendar uma refeição a cada três horas e ingerir diariamente cinco porções de verduras, legumes e frutas seria ótimo para a minha saúde.
Alimentos a evitar
Meu lema é fugir de excessos do que quer que seja: doces, gorduras, proteínas, bebida alcoólica. E fazer trocas espertas por aquilo que também é gostoso, porém light.
Alimentos a abolir
Afasta de mim as frituras e os alimentos com gordura trans!
As dificuldades
Malhação
– Falta tempo: eu trabalho muito!
– Falta gosto pela ginástica: não curto meeesmo.
– Falta dinheiro. E o que sobra quero gastar com o que me dá prazer, entende?!
Alimentos a consumir
– Não sinto fome de manhã. Mal tomo café. E, depois de engatar o trabalho, não paro para almoçar.
– Nunca tenho um lanche à mão. Por isso, acabo pulando essa etapa e chegando ao jantar faminta.
Alimentos a evitar
– O que é bom tem gostinho de quero mais, muito mais. O pecado da gula é um dos mais tentadores.
– E como ficam as reuniões com os amigos e as happy hours?
Alimentos a abolir
– Tudo o que é prático contém essa bandida. E, na hora da fome, a gente nem se lembra de olhar o rótulo.
– É superdifícil resistir àquela fritura crocante do barzinho ou à que a sua tia querida faz.
Há soluções
Malhação
Já tentei natação, musculação, dança, ioga… Mas nada me seduziu por mais de um ano. Continuo buscando uma atividade que combine comigo. Vou tentar tai chi chuan. Também tratei de ir a pé à padaria, à farmácia e ao restaurante perto de casa.
Alimentos a consumir
– Não saio mais de casa antes de tomar 1 xícara de leite e comer uma fruta. O estômago ronca menos no almoço.
– Incluí nas compras frutas e castanhas que mantenho por perto em porções suficientes para todo o dia, e legumes e verduras para o jantar.
Alimentos a evitar
– Durante a semana, mesmo que fique com vontade de atacar a feijoada ou o pudim no bandejão, em plena quarta-feira, respiro fundo e procuro as opções light.
– Resolvi limitar minhas saídas para tomar um chopinho a uma vez por semana.
Alimentos a abolir
– Sempre que vou ao supermercado, penso no meu coração, que sofre com a trans, e confiro o rótulo.
– Passei a testar receitas que achava esquisitas, à base de soja e tofu, por exemplo.
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Alimentos termogênicos